terça-feira, 28 de novembro de 2006

Os Mutantes



Os Mutantes foram a banda de rock mais original do rock brasileiro, ou quem sabe do mundo. O trio formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias apresentava um rock anárquico e experimental, que misturava desde psicodelia, Beatles, música concreta, música erudita e até o samba. Tudo isso com muita distorção de guitarra. Junto com seus colegas Tropicalistas: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Capinan e Nara Leão, eles atearam fogo no cenário musical brasileiro.

Tudo começou em 1964, quando os irmãos Baptista, Arnaldo (baixo, teclado) e Sérgio (guitarra) formaram a
banda adolescente chamada Wooden Faces. Porém esta teve vida curta e logo depois eles montaram uma nova banda, o Six Sided Rockers, já com a presença de Rita Lee. O grupo ainda trocou de nome mais uma vez, para O Konjunto, até ser batizado definitivamente de Mutantes, que fora inspirada no livro de ficção científica “O império dos mutantes”, do francês Stefan Wul.

Em 1966, com o conjunto bem entrosado, os Mutantes passaram a fazer participações em programas de TV bem populares, tais com “Astros do Disco”, “Jovem Guarda”, “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”. Isso permitiu que o som deles chegasse aos ouvidos do maestro Rogério Duprat, que encantado, os chamou para contribuírem no arranjo de “Domingo no parque”, canção de Gilberto Gil para o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de São Paulo (1967). Não satisfeitos com isso, eles ainda acompanharam o próprio Gil em sua apresentação no mesmo festival.
Esse evento abriu as portas para um primeiro compacto – O RELÓGIO (1967) – e a participação no “disco-manifesto” TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSIS (1968), que deflagou o Movimento Tropicalista.

Em 1968, eles lançam o seu primeiro LP, OS MUTANTES chegam as lojas , apresentando um repertório forte, bem psicodélico, com muita microfonia e
longas passagens instrumentais. Tudo isso sob a “batuta” do m
aestro Rogério Duprat e do irmão Cláudio César, nos efeitos de estúdio e nos instrumentos. Mas o impacto mesmo ocorreria ao acompanhar Caetano Veloso na canção “É proibido proibir”, no III Festival Internacional da Canção da TV Globo do Rio, no qual se ouvia vaias de um lado e gritos de guerra do outro.

O ano de 1969 também é rico em acontecimentos. Gravam o segundo disco MUTANTES, sensivelmente melhor, onde mostram grande evolução musical, principalmente no que concerne a arranjos e composições. Canções como “Dom Quixote”, “2001” e “Algo mais” mostram que estavam bem afiados, sendo esta última utilizada para um comercial da Shell.

Pela primeira vez viajam para o exterior, França e Europa. Na volta a “família mutante” cresce com a entrada dobaterista Ronaldo Leme (Dinho) e o baixista Arnolpho Lima (Liminha).

Os dois álbuns seguintes "A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (1970) e JARDIM ELÉTRICO (1971) manteve o nível, flertando agora com o blues, o soul e o hard rock. Eles ainda fize
ram um show no Olympia de Paris, onde aproveitaram a estada na Europa para gravar um disco para o mercado internacional, todo em inglês, que só foi lançado vinte anos depois (2000).

Paralelamente aos Mutantes, Rita Lee vinha gravando discos solos, que alimentavam os rumores de sua saída da banda. Fato que se consumou após a gravação do fraco MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DO BAURETS (1972). A partir daí tudo se modificou, enquanto Rita Lee se firmava como uma estrela de primeira grandeza da Música Popular Brasileira.

Arnaldo Baptista, continua com os Mutantes por mais um disco – O A E O Z (gravado em 1973 e lançado em 1992), para depois seguir em carreira solo, onde alterna bons e maus momentos, com de
staque para o álbum LOKI? (1974). Já Sérgio Dias tentou levar a frente os Mutantes, agora progressivo, sem muito sucesso.
Mais dois discos foram lançados - o TUDO FOI FEITO PELO SOL (1974) e o AO VIVO (1976).

Contudo o fim da banda era inevitável. E dessa forma chegou ao fim a incrível jornada dos Mutantes, uma das bandas mais criativas do rock.


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"Discografia"




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Os Mutantes - 1968


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MUTANTES (Polydor, 1968) - Produção: Manoel Barenbein.


Primeiro álbum do grupo. É o disco tropicalista da banda. Espécie de carta de princípio, reúne, em suas 11 faixas, um pouco das propostas e possibilidades futuras. Com arranjos de Rogério Duprat e as participações de Jorge Ben no violão e voz, e do baterista Dirceu, o faz um mixer das propostas "fundamentalistas" da Tropicália - Panis et Circenses, Bat macumba e Baby - com a irreverência anárquica dos Mutantes. Fazendo de todos os absurdos, todas as incosequências: possibilidades - confrontar o principal parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira (Adeus Maria Fulô) com a existencialista-pop Françoise Hardy (Le Premier Bonheur du Jour); misturar Jorge Ben (A Minha Menina), com uma versão (não creditada, do pai César Dias Baptista) de uma semi-conhecida canção do grupo norte-americano The Mamas and The Papas (Tempo no Tempo / Once There was a Time i Thought) a uivos pré-históricos em homenagem a Gengis Khan (Ave Gengis Khan) e uma paródia kafkaniana (Senhor F). Completam o álbum: O Relógio e Trem Fantasma. Fonte: Arnaldo Baptista

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Mutantes - 1969


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MUTANTES (Polydor, 1969) - Produção: Manoel Barenbein.

Depois da estréia em 1968, o Mutantes, agora sem o artigo Os, lança, em 1969, o primeiro álbum dentro da verdadeira estética mutantropicalista. O álbum de 69 é o mais experimental do grupo. Não há nehum limite. Tudo - literalmente - tudo é possível. Tudo é funcional em sua estranheza. Da capa - com o trio simulando Dom Quixote - Sancho Pancha e Dulcinéia noiva - a audácia das audácias: gravar um jingle, da Shell, em um disco (Algo Mais); para o universo pop, o grupo constrói seus dois maiores hits (Fuga nº 2 e Caminhante Noturno); regrava Celly Campello (Banho de Lua); incorpora recursos paranomásicos da poesia concreta, com o auxílio do "pai" César Dias Baptista, em Dom Quixote; dialoga magistralmente com a tropicália enviesada de Tom Zé, em 2001 e Qualquer Bobagem; grava iê-iê-iê (Não vá se perder por aí) e psicodelia (Dia 36, parceria como o hippie performático Johnny Dandurand) e por fim, faz, talvez a primeira, meta-canção da MPB, isto é, uma canção falando sobre a própria cantora (Rita Lee). O álbum de 69 traz - ainda de que forma implícita - a participação dos outros dois mutantes: o baterista Dinho (Ronaldo Leme) e o contrabaixista (que no disco tocou viola) Liminha.
Fonte: Arnaldo Baptista


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A Divina Comédia ou Ando meio Desligado - 1970

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A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (Polydor, 1970) - Produção: Arnaldo Sacomani.

Depois de reler o Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, o Mutantes parte rumo ao inferno da Divina Comédia e reconstrói o poeta italiano Dante Alighieri em versão pop-psicodélica. Se o álbum anterior foi experimental, este de 70 é - no sentido mais amplo - revolucionário. Nunca, na história da música brasileira, um grupo/artista foi tão longe em radicalidade. A Divina Comédia dos Mutantes jogou por terra todas as divisões e segmentações musicais. pop - experiência - vanguarda - cafonice - rigor - informalidade - rock, tudo se fundiu. Roberto Carlos & Erasmo Carlos (Preciso Urgentemente Encontrar um Amigo) com Sílvio caldas & Orestes Barbosa (Chão de Estrelas - o melhor arranjo - de Rogério Duprat - já realizou na MPB) bate cabeça com Dante (Ave Lúcifer e Oh! Mulher Infiel. Ao quinteto - Arnaldo - Dinho - Liminha - Rita & Sérgio), se juntam, em participações mais do que especiais: raphael Vilardi, violão e voz; e o percussionista Naná Vasconcelos. Nos arranjos, o tom magistral de Duprat. Fonte: Arnaldo Baptista
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Tecnicolor - 1970


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TECNICOLOR (Universal, gravado em1970 e lançado em 1999) - Produção: Carl Holmes.


"Tecnicolor" – a penúltima última viagem dos Mutantes

Existem coletâneas e coletâneas de sucesso. Na maioria das vezes, são sofríveis. Acompanham o bel-prazer – ou desprazer – das gravadoras. Quase sempre, com a pretensão de atualizar a obra do artista a onda do momento. Se o período é de romantismo, a coletânea deve trazer as canções mais melosas do artista. Poucos artistas têm suas obras bem administradas. Beatles; Madonna; Prince. Roberto Carlos; Marisa Monte; Paralamas do Sucesso.
Os contratos de cessão de direitos fonográficos ainda continuam na idade da pedra. Para as gravadoras, tudo – ou quase tudo. O que já é muito. Para os artistas, a possibilidade de fama, riqueza e glória. Como o risco é grande e com a incerteza não se deve brincar, geralmente, um lado (as gravadoras) ganha e o outro (os artistas) perde.
O mais absurdo dessa situação é a falta de gerência do artista sobre sua própria obra. Isso acontece no universo (da música pop) que mais lucro produz. Na literatura, no cinema, nas artes plásticas, esse desmando é raramente aceito.
Assim, a grande vingança desse "dono que nada possui" é quando ele administra sua coletânea como um lançamento, não como uma colcha de farrapos de retalho para encher mais o cofre das gravadoras.
Sem dúvida, a primeira grande obra dentro desse formato foi a gravação do álbum "Tecnicolor" dos Mutantes, em 1970. Era, ao mesmo tempo, uma brincadeira e um passo à frente, uma coletânea e um álbum de carreira. Pois dava nova roupagem para canções já lançadas pelo grupo. Novas roupagens realmente. Não uma gravaçãozinha com um adereço a mais.
O grupo, em sua proposta de "revolução permanente", no terceiro ano de sua carreira fonográfica (a estréia se deu em 1968 com o álbum "Os Mutantes"), sem medo e sem pudor, revirou e reviu as entranhas de sua história.
Segundo Carlos Calado, "Tecnicolor" é um "título virtual", provavelmente bem posterior. O álbum foi gravado em Paris, em novembro de 1970, no Des Dames Studio. Sob a produção de Carl Holmes.
O álbum, para seguirmos um conceito da época, faz uma coletânea de versões na melhor acepção do Poema/Processo. Isto é, versões a partir de obras primeiras que se transformam em novas obras. É uma espécie de "Abbey Road" (penúltimo disco dos Beatles) às avessas. Esse disco do "Fab Four" foi gravado depois do último ("Let It be") e foi lançado antes. Esse dos Mutantes foi gravado antes do "último" ("Mutantes & Seus Cometas no País dos Baurets") e só lançado duas décadas depois.
O disco é uma antologia especial. Pois reúne repertório recente, do álbum "Jardim Elétrico", do ano: "Virgínia"; "Tecnicolor"; "El justiciero" e "Saravah", com sucessos anteriores. Os "hits" tropicalistas: "Panis et circences" (em duas versões); "Bat macumba"; "She’s my Shoo Shoo" (isto é, a jorgeben-tropicalista "A minha menina") e "Baby", a canção mais regravada pelos Mutantes (três versões); os clássicos "I feel a little spaced out" ("Ando meio desligado"); "Adeus Maria Fulô" e "I’m sorry" ("Desculpe, babe"); e o tributo aos anfitriões franceses, uma regravação de "Le premier bonheur du jour", já gravada no primeiro álbum do grupo.
O efeito-Mutantes da empreitada é que o grupo, não se fazendo de rogado, traduziu quase todas as letras para o inglês. Exceto, obviamente, a concretista e intraduzível "Bat macumba", a brejeira "Adeus Maria Fulô" e a canção francesa. "She’s my Shoo Shoo" ficou mais Jorge Ben ainda. O refrão original, em português, só aparece como coda.
"Tecnicolor" foi lançado em 2000. Além da surpresa pela modernidade sonora, trouxe ilustrações e textos manuscritos assinados por Sean Ono Lennon. Isso mesmo, o filho "inteligente" de Yoko Ono e John Lennon. Que, reza a lenda, disse julgar mais revolucionário o grupo brasileiro do que o olímpico grupo do pai. A colaboração estrangeira foi vista como algum incomodo. Pois, como sempre, a crítica especializada brasileira achou que Sean não era a pessoa mais indicada para conceber a capa. Bobagem, "fosse um dia de sol", como diria Oswald de Andrade, o preconceito tupiniquim entenderia que esse gesto foi mais uma confirmação de que nosso "Astronauta Libertado", a cada dia que passa, por mérito, é mais entronizado no Panteão do pop-rock mundial. E que se aprenda de uma vez, parafraseando, Tom Jobim, Os Mutantes, assim como o Brasil, não é uma coisa para amadores.
Fonte: Arnaldo Baptista
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Jardim Elétrico - 1970


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JARDIM ELÉTRICO (Polydor, 1971) - Produção: Arnaldo Baptista


Depois de três álbuns - um tropicalista, um experimental e um revolucionário - , o Mutantes lança o seu disco mais estranho. O jardim Elétrico é, sonoramente, bem proxímo da fotografia da contracapa. O quinteto zoando em um estúdio, entre parafernálias elétricas, instrumentos acústicos e alguns estimulantes. Basta notar que pela primeira e única vez, sempre que Rita lee e Sérgio Dias participam como compositores de uma música, é esta a sequência dos nomes, o que, à la Lucy in the Sky with Diamonds, dá para ler L (Lee) S (Sérgio) D (Dias). Disco de zoeira. Traz outro hit do grupo Top Top, um hard rock infernal Jardim Elétrico; uma doce versão (para o inglês) de Baby e uma paródia - homenagem a Tim Maia, Bemvinda. Completando o álbum: Tecnicolor, El Justiceiro; It's Very Nice pra Xuxu; Virgínia; Lady, Lady; Batmacumba e Saravá. Fonte: Arnaldo Baptista

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Mutantes e seus cometas no país dos Baurets - 1972


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MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DO BAURETS (Polydor, 1972) - Produção: Arnaldo Baptista


1972 é o primeiro ano (chave) do resto da vida do Mutantes. Com o Baurets, Rita Lee dá adeus ao grupo. Mas antes, se une Arnaldo - Dinho - Liminha & Sérgio no álbum mais rock'n'roll. De Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha meu rock'n'roll até Rua Augusta, o disco é uma pauleira (ou lenha, como gosta de nomear Arnaldo Baptista) do começo ao fim. E dá-lhe rock and roll em Dune Buggy, Beijo Exagerado e A Hora e a vez do Cabelo Nascer (esta magistralmente regravada pelo Sepultura. Em contraponto, as suavidades ácidas de Vida de Cachorro e o hit dos hits do grupo Balada do Louco. No setor lisergia, a ópera-surrealista-progressiva de Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, que inclui uma releitura de Tempo no Tempo / I Once There was a Time i Thought, do primeiro disco; e a vinheta dadísta Todo Mundo Pastou I e II. Ainda sobre o Baurets, resta dizer que o título do álbum e a canção homônima relêem mais um pilar da literatura mundial, o inglês Lewis carroll, e seu Alice no País das Maravilhas. É, obviamnte, o senhor Bill Halley e seu topete chuca e seus comets.Fonte: Arnaldo Baptista
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A e o Z - 1973


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O A E O Z (Philips, 1992; gravado em 1973) - Produção: Mutantes


Com a saída de Rita Lee, o quarteto - Arnaldo - Dinho - liminha e Sérgio - ainda grava, em 1973, um novo disco, que fica inédito até 1992. O A e o Z é a exacerbação da ópera-surrealista-progressiva Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, do disco anterior. As seis faixas do álbum, embora independentes uma das outras, compões uma longa trilha sonora para um filme à la Zabriskie point, de Antonioni. Viagem. Trip. Good Trip. Da autobiográfica (de Arnaldo) Rolling Stones a Uma Pessoa Só (depois regravada por Arnaldo em seu 1º álbum solo Lóki?, de 1973), o álbum - sintomaticamente chamdo de O A e o Z - é o clique final na maravilhosa história do grupo Mutantes. Algum tempo depois, Arnaldo deixa o grupo e Dinho - Liminha e Sérgio seguem com o projeto (ou novo projeto) Mutantes, mas aí ja é outra história, outra mutação, outro coração, outra trip.Fonte: Arnaldo Baptista
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Tudo foi feito pelo Sol - 1974


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Ao Vivo - 1976


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Cavaleiros Negros - 1976


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Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida - 1972


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HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE SUA VIDA (Polydor - 1972) - Direção de Produção: Arnaldo Baptista.


Dois anos após “Build up”, Rita Lee lança seu segundo álbum solo. A situação já é bem diferente. Se antes, Rita ainda era uma efetiva mutante; agora, a opção do grupo pelo rock progressivo (leia-se: influência do grupo Yes), praticamente jogava a artista para fora do Planeta dos Bauretz. Seu segundo disco é uma despedida e, ao mesmo tempo, o álbum mais Mutantes de todos os trabalhos do grupo. Nenhum dos seis álbuns da primeira fase do grupo – 1968-1972 – foi composto exclusivamente pelos integrantes, todos tiveram colaborações externas. O “Hoje é...”, não. Todas as faixas foram compostas pelo núcleo Arnaldo-Rita & Sérgio + Liminha: “Vamos tratar da saúde”; “Beija-me, amor”; “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”; “Teimosa”; “Frique comigo”; “Amor branco e preto”; “Tiroleite”; “Tapupukitipa”; “De novo aqui, meu bom José?” (resposta irônica a lírica “José (Joseph)”, do “Build up”); “Superfície do planeta”. A censura retalhou algumas letras que, de ácidas, se transformaram em líricas. Em “Beija-me, amor”, ouvimos: “Para que eu sinta o seu gosto / Mesclado com o gosto de amor / “Mastigado entre os dentes meus...”. Mas, na verdade, o texto original dizia: “Para que eu sinta a saliva / E o gosto de cuspe / Escorrendo entre os dentes meus...”, (cf.: Carlos Calado: “A Divina Comédia dos Mutantes”, pág.285).
O único furo (novidade) no bloqueio-Mutantes é a (estréia) participação da cantora, compositora e instrumentista Lucia Turnbull, nos vocais. Futura parceira de Rita no projeto pós-Mutantes Cilibrinas do Éden, em 1973. Dupla que serviria de base, no ano seguinte, para o grupo Tutti Frutti, com a entrada do guitarrista Luiz Sérgio e do contrabaixista Lee Marcucci. Álbum de estréia: “Atrás do porto tem uma cidade”.
Embora contemporâneo do LP “Mutantes e seus cometas no País dos Bauretz”, “Hoje é...” é um volta e/ou um símile do primeiro disco do grupo – “Os Mutantes –, de 1968. Uma audição (e uma visão) atenta de ambos mostra a estranha e estrondosa semelhança. A começar pelas capas: o álbum de 1968 traz, na contracapa, um pequeno desenho do grupo feito por Rita; no álbum solo, a capa traz um auto-retrato de Rita, a simplicidade gráfica esconde para revelar um dos elementos básicos da estética do grupo: o humor. O que, infelizmente, a opção progressiva da época encobriu ou descartou.
“Hoje é...” se traduz em uma catarse final solo/coletiva rumo a esse elemento. Se de um lado, no “Bauretz”, o humor – muito presente – está submerso; no álbum solo, ele está explícito, sobre uma textura sonora que, às vezes, soa também progressiva.
O disco tem dois capítulos distintos:
(1) biográfico, na trilha de “Vamos tratar da saúde” e “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”.
(2) Humorístico, em “Amor em branco e preto” (um hino não oficial para o Corinthians), “Tapupukitipa” e “Tiroleite”. Talvez a única tentativa vitoriosa de se fazer bom-humor com os valores da geração hippie. Essa canção, embora não tenha se transformado em sucesso rádio-televisivo, é um dos grandes “hits” das rodinhas de violão. Em algumas, divide o pódio com “Andança”, “No woman, no cry (Não chores mais)”, “Maluco beleza”, “Sobradinho” e coisas e tais.
Se “Hoje é...” é uma volta ao início do grupo, é, também, um disco-projeto do que seria a carreira-solo de Rita. Isto é, um amálgama da fórmula antropofágica de Oswald de Andrade: do AMOR / HUMOR.
Depois de 1972, nem Rita nem os Mutantes seriam os mesmos. Cada um seguiu seu caminho. Todos, porém, dentro de alguma trilha que já estava demarcada nas obras primeiras do grupo.
A partir dessa compreensão, podemos entender que, na verdade, a primeira fase do grupo não possui apenas cinco álbuns, mas oito – os cinco do grupo mais o tardio “Technicolor”, gravado em 1970 e lançado em 1999, os dois solos de Rita.
Fechou a discografia? Para mim, não. Na verdade, essa fase tem nove discos. Ainda incluo o primeiro álbum solo de Arnaldo – “Lóki?”, de 1974.
Como? É só reler este texto. Tudo que foi falado para os dois álbuns solos de Rita serve, com maior ou menor grau, para o “Lóki?”.
Isso, se não computarmos: o disco-manifesto “Tropicália – ou panis et circensis”; o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”, de 1968; e o compacto duplo de Caetano Veloso com as faixas: “A voz do morto”; “Baby”; “Saudosismo” e Marcianita”, gravado ao vivo, todos de 1968.

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Rita Lee Build Up - 1970

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Obs: Direção Musical de Arnaldo Baptista.

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Mutantes Ao Vivo em Londrina - 1975


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Mutantes Ao Vivo em São Paulo - 1978(Último Show dos Mutantes)


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sexta-feira, 24 de novembro de 2006

O'Seis

Uma mistura de Wooden Faces (Rafael, Arnaldo, Tobé, Robertinho, Sérgio Orlando) mais The Teenage Singers (Rita Lee, Suely, Jean e Beatrice, depois Eliane e Rosa), deu no Six Sided Rockers, apaulistado para O’Seis, o legendário pré-Mutantes.
Arnaldo e Rafael também tinham participado do grupo The Thunders, antes do Wooden Faces, e Rita Lee do Túlio Trio, tocando banjo, ao lado do tecladista Túlio e de Suely, que tocava violão. Ligados ao artista plástico Antônio Peticov, espécie de empresário da banda, O'Seis agitou a capital paulista, incluindo aparições na televisão, e no palco da Folha de S. Paulo, por mais de dois anos.
Em 1966, ainda como O'Seis, os futuros Mutantes realizam sua primeira gravação individual, com o antológico compacto pela Continental, contendo as clássicas 'Suicida' e 'Apocalipse' com letras vanguardistas e hilárias para a época.



Suicida Apocalipse - 1966

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Marco Antônio Araújo

Esse álbum é uma mescla, feita com muita excelência, de jazz e música popular, com muitas pitadas de clássico e erudito.

Disco altamente recomendado para os fãs de rock progressivo em geral, principalmente, para os mais ligados no lado folk do estilo. Com músicas muito bem elaboradas, com muitos momentos marcantes de guitarra e principalmente flauta, Marco Antônio e sua banda nos traz nesse álbum um instrumental de altíssima qualidade.

Este disco nos traz 8 faixas, incluindo duas extra-tracks: Panorâmica, Influências, Bailado, Abertura N.2, Cantares, Folk Song, fora Entr’ Act I & II e Floydiana II de bônus.

Influências - 1980

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quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Veludo

A história da banda carioca Veludo, surgida no inicio dos anos 70, é tão obscura quanto a de qualquer outra banda daquela época - como Módulo 1000, A Bolha, Vímana , Peso e Scaladacida. Era um tempo onde a juventude queria ir além do Tropicalismo, que era mais acessível, e beber das fontes importadas de bandas como Yes, ELP e King Crimson. Enquanto no Brasil, os únicos grupos que tinham um certo reconhecimento, como Mutantes e Terço, só se apresentavam mais pelo interior do estado, haviam também outros que ganhavam muito dinheiro cantando em inglês e se apresentando na TV e nas capitais, como o Pholhas e Menphis, seguindo a linha de Morris Albert (cantor de Fellings).

Em contrapartida, surgiria em 1974, o Veludo, sob a liderança do tecladisda e compositor Elias Mizrahi. Tinha ainda em sua formação o guitar-hero Paulo de Castro e o ex-Bolha, considerado por muitos como o melhor baterista carioca, Gustavo Schoeter (que depois tocaria na Cor do Som) e, no baixo, Pedro Jaguaribe. Antes disso se chamava Veludo Elétrico e chegou a ter entre seus integrantes: Lulu Santos e Fernando Gama (que saíram para formar o lendário Vímana), Rui Motta, Tulio Mourão e Luciano Alvez (que passaram pelos Mutantes, liderado por Serginho Dias). Fernando Gama integraria depois o Boca Livre, Tulio Mourão tocaria com Milton Nascimento entre outros, e Luciano Alvez nos primeiros discos de Pepeu Gomes.

O som do grupo nessa época era basicamente calcado no hard-rock, talvez com toques de Deep Purple, e muito improvisado. Muitas vezes parececiam que tocavam tão alucinados que iriam se perder no meio dos temas. Natural, pois o Veludo Elétrico fez muitos shows pelo Rio de Janeiro tocando Rolling Stones, mas a proposta do agora "Veludo" já se destanciava bastante da original. Contudo, a fama da banda se espalhava com enorme repercurssão. Diversas eram as dificuldades naqueles anos (1974-1975), pois nenhuma gravadora estava disposta a levá-los para o estúdio e investir; o som era muito mais experimental. Aliás, de experimental no Brasil, só o Hermeto Pascoal conseguiu alguma coisa, mesmo assim teve que sair do país.

Por causa disso, alguns fãs levavam gravadores para as apresentações afim de obter registros das músicas e assim, no início dos anos 90, surge o disco 'Veludo ao Vivo' (1975), fruto da atitude de um fã que teve a coragem de prensar 2000 cópias e, dessa forma, prestar uma valiosa contribuição para a história do rock nacional. O som foi gravado da apresentação da banda no projeto Banana Progressiva, impulsionado pelo multimídia Nelson Motta. Uma raridade imperdível, apesar da baixa qualidade técnica da gravação - o que é perfeitamente compreensível.



Veludo - Ao Vivo 1975

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Módulo 1000

O Módulo 1000 foi um grupo de hard rock carioca, formado em 1969, que teve breve duração. O quarteto seguia uma linha pesada com nítidas influências de Black Sabbath e toques de psicodelia a la Pink Floyd. Composto por Daniel (voz e guitarra), Luís Paulo (orgão), Eduardo (baixo) e Candinho (bateria), o Módulo 1000 teve em seu currículo a participação no V Festival Internacional da Canção e o lançamento de um único álbum em 1971, que hoje é um valioso ítem para os negociantes de LPs raros. Na década de 1990, um colecionador de discos do Rio de Janeiro comprou os direitos do Módulo 1000 junto a Top Tape e transformou o LP em CD com um número limitado de cópias (500 copias). O CD saiu pela Zaher Zein/Projeto Luz Eterna. Na Europa o disco - Não Fale Com Paredes - tornou-se um clássico.
Não Fale Com Paredes - 1971

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Tellah

Grupo brasileiro (de Brasília) formado nos anos 70, O tellah possuía formação diferente da imortalizada em seu único álbum, de 1980: Felício, Sosé Veríssimo da Silva (baixo) e Felipe de Andrade Guedes (bateria). A banda, além do LP, conta, em seu currículo, com a montagem de uma peça de teatro "O cavalo de guerra", em 1977. "Continente perdido" seria relançado pela Progressive Rock Worldwide."


Continente Perdido - 1980

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Bixo da Seda

Os anos 70 estavam começando. O sonho tinha acabado, os Beatles já não existiam mais. No outro lado do Atlântico, a "América" perdia seus três maiores ícones: Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Como no inicio da década passada, o rock se reciclava através das bandas inglesas. O estilo já tinha se consolidado como um movimento social, uma arma nas lutas da juventude.

Nesse contexto, mais precisamente no ano de 73, um guitarrista porto-alegrense chamado Zé Vicente Brizola (filho de quem você está pensando) tem a brilhante idéia de formar uma banda de rock, convidando seu amigo Mimi Lessa, considerado na época um dos melhores guitarristas do país. Mimi estava voltando do Rio onde fez sucesso com o Liverpool, banda em que também tocava seu irmão Marcos (baixo), e seu primo Edinho Espíndola (bateria). Os dois acabam por entrar no projeto, que tem sua formação "quase finalizada", com o ingresso de um experiente tecladista do cenário da capital: Cláudio Vera-Cruz.

Influenciados basicamente pelo rock progressivo de bandas como Yes, Pink Floyd, King Crimson, Jethro Tull e Focus, juntamente com o Rock`N Roll básico dos Rolling Stones, faltava ao quinteto um nome. E este surgiu da forma mais inusitada: enquanto enrolavam um baseado, pensam na utilidade daquele papelzinho quase transparente, a seda. Aqui surgia uma das maiores bandas de rock do Rio Grande do Sul, o Bixo da Seda.

Sem contar com um "frontman", acabam por dividir os vocais entre os integrantes do grupo, fato que acabaria quando convidam mais um ex-Liverpool, o maluco beleza Fughetti Luz, para ingressar na banda. Fughetti era talvez, a melhor definição para o termo Hippie. Logo na sua infância teve uma paralisia infantil, que deixou seqüelas irreversíveis em suas pernas, fato que dava um ingrediente a mais as suas performances. No começo da década, com o fim do Liverpool, foge da repressão militar exilando-se no Velho Mundo, sem ao menos falar uma língua que não fosse o bom e velho português. Fica lá por pouco tempo, sendo "convidado a se retirar" pelas autoridades européias.

De formação nova o Bixo parte para o Rio, deixando no caminho Zé Vicente Brizola e Cláudio Vera-Cruz, sendo este último, substituído pelo ex-Bolha Renato Ladeira. No centro do país fazem diversos shows pelos festivais da época, dividem o palco com as grandes bandas dos anos 70, ganham o reconhecimento da mídia especializada e são contratados para gravar seu primeiro e único registro.

O LP Estação Elétrica, de 76, acaba por não mostrar o que era realmente o Bixo ao vivo. Toda energia que marcava o grupo no palco, não foi transmitida para o CD. Mesmo assim, contém grandes obras como Um Abraço em Brian Jones, em homenagem ao ex-Stones, as lindas baladas Vênus e Já Brilhou, e seu hino Bixo da Seda, com os famosos versos: Bixo, dá a seda, me deixa enrolar. A grande qualidade técnica dos músicos, as harmonias um tanto rebuscadas para uma banda de rock, e seus compassos totalmente fora dos padrões, características marcantes da banda, podem ser ouvidas em todas as músicas. Relançado no final do ano passado em CD, trata-se de um disco clássico do rock nacional.

A banda ainda durou mais três anos, até que Mimi, Marcos e Edinho entram para a banda de apoio das Frenéticas. Era o Fim do Bixo, o grande pilar Rock Gaúcho, referenciada por todas as gerações posteriores.

Hoje, os irmãos Mimi e Marcos vivem no centro país, participando de inúmeros projetos musicais. Edinho é um dos bateristas mais requisitados do Brasil, tocando atualmente na Fu Wang Foo. Fughetti "apadrinhou" na década de 80 diversas bandas, entre elas a Bandaliera, para qual compunha várias músicas, e o Taranatiriça. Lançou ainda dois discos solos e mora no interior do Estado.


-> Formação:
* Foguete - voz
* Pecos Pássaro - guitarra
* Mimi Lessa - guitarra
* Renato Ladeira - teclados
* Marcos Lessa - baixo
* Edson Espíndola - bateria


Bixo da Seda - 1976

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Bango

O grupo Bango gravou apenas um disco, no início dos anos setenta, para logo em seguida dissolver-se. Integravam o Bango os músicos Fernandinho (guitarra solo), Elydio (baixo), Roosevelt (piano e orgão), Max (bateria) e Aramis (guitarra, violão e vocais), egressos dos Canibais. O disco do Bango foi originalmente lançado pela gravadora brasileira Musidisc.

O som da banda é um mix de Mutantes, hard rock e progressivo, com forte presença de fuzz-guitars, teclados (órgão, especialmente) e vocais em português e inglês. Com qualidade internacional, o disco contém um variado repertório, com rock pesado, rock rural à la '2001', dos já citados Mutantes, e canções pop.

Os destaques do disco são as faixas ‘Inferno no Mundo’ (fuzz-guitars no talo), ‘Rolling Like a Boat’ (um rock & boogie, com tecladinhos garageiros), ‘Motor Maravilha’ (a mais forte influência dos irmãos Baptista) e ‘Rock Dream’ (hard pesadão, com vocais agudos e berrados). Na última faixa, ‘Ode To Billy’, um solo de bateria toma um bom tempo da música e do disco.

Inédito em CD no Brasil, o disco foi relançando em vinil na Alemanha, pelo selo Shadocks, com sede em Berlim.




Bango - 1971

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Bacamarte

Um dos maiores nomes brasileiros no gênero, o Bacamarte nasce em 1974 como uma entre muitas bandas de colegas de colégio. Depois de várias mudanças de formação ao longo de seus três primeiros anos de vida, o grupo apresenta-se no programa "Rock Concert" da TV Globo, o que provoca um aumento do interesse por sua música. O resultado seria uma fita gravada em 1977 que circularia inclusive pela CBS se, contudo, conseguir aprovação (coisas das era Disco...). Com o surgimento, em 1982, da rádio Fluminense FM e sua política de abrir espaço para bandas iniciantes, o Bacamarte despontaria como grande revelação. No ano seguinte, "Depois do fim", álbum independente, está disponível ao público. O disco venderia milhares de cópias no Brasil e países da Europa e (principalmente) Japão. O sucesso da estréia, porém, não impede o fim da banda um ano depois."


-> Formação:
* Jane Duboc - voz
* Marcus Moura - flauta, acordeon
* Mario Neto - violão e guitarra
* Mr. Paul - percussão
* Delto Simas - baixo
* Marco Verissimo - bateria
* Sergio Villarim - teclados



Depois do Fim - 1983

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Posteriormente, o guitarrista Mário Neto lança o CD "As Sete Cidades" sob o codinome Bacamarte.

As Sete Cidades - 1999

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Ave Sangria

Eles usavam batom, beijavam-se na boca em pleno palco, faziam uma música suja, com letras falando de piratas, moças mortas no cio. E eram muito esquisitos; "frangos", segundo uns, e uma ameaça às moças donzelas da cidade, conforme outros. Estes "maus elementos" faziam parte do Ave Sangria, ex-Tamarineira Village, banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes. Com efeito, ela era conhecida como os Stones do Nordeste.

"Isto era tudo parte da lenda em torno do Ave Sangria" - explica, 25 anos depois, Rafles, o ministro da informação do grupo. "O baton era mertiolate, que a gente usava para chocar. Não sei de onde surgiu esta história de beijo na boca, a única coisa diferente na turma eram os cabelos e as roupas." Rafles por volta de 68, era o "pirado" de plantão do Recife. Entre suas maluquices está a de enviar, pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.

Foi Rafles quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo. Isto aconteceu depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova. Até então, sem nome definido, Almir Oliveira, Lula Martins, Disraeli, Bira, Aparício Meu Amor (sic), Rafles, Tadeu, e Ivson Wanderley eram apenas a banda de apoio de Laílson, hoje cartunista do DP.

Marco Polo, um ex-acadêmico de Direito, foi precoce integrante da geração 45 de poetas recifenses. Com 16 anos, atreveu-se a mostrar seus poemas a Ariano Suassuna e a Cesar Leal. Foi aprovado pelos dois e lançou seu primeiro livro em 66. Em 69, iniciou-se no jornalismo, como repórter do Diário da Noite. Logo ganhou mundo. Em 70, trabalhou por algum tempo no Jornal da Tarde, em São Paulo, mas logo virou hippie, trabalhando como artesão na desbundada praça General Osório, em Ipanema. O primeiro show como Tamarineira Village foi o Fora da Paisagem, depois do festival de Fazenda Nova. Vieram mais dois outros shows, Corpo em Chamas e Concerto Marginal. A partir daí a banda amealhou um público fiel.

A mudança do nome aconteceu quando o grupo passou a ser convidado para apresentações em outros Estados. Os músicos cansaram-se de explicar o significado de Tamarineira Village. O Ave Angria, segundo Marco Polo, foi sugestão de uma cigana amalucada, que encontraram no interior da Paraíba: "Ela gostou de nossa música e fez um poema improvisado, referindo-se a nós como aves sangrias. Achamos legal. O sangria, pelo lado forte, sangüíneo, violento do Nordeste. O ave, pelo lado poético, símbolo da liberdade do nosso trabalho.

Na época, o som do Quinteto Violado era uma das sensações da MPB. Não tardou para as gravadoras mandarem olheiros ao Recife em busca de um novo quinteto. A RCA foi uma delas. O Ave Sangria foi sondado e recusou a proposta (a RCA contratou a Banda de Pau e Corda).

O disco viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: "Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampeão", relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração da banda. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.

Como agravante, quem produziu o disco foi o pouco experiente Marcio Antonucci. Ex-ídolo da Jovem Guarda (formou a dupla Os Vips, com o irmão Ronaldo), Antonucci ficou perdido com o som que tinha em mãos, e o pôs a perder: "Ele não entendeu nada daquela mistura de rock e música nordestina que a gente fazia, e deixou as sessões rolarem. O diabo é que a gente também não tinha a menor experiência de estúdio", conta o guitarrista Paulo Rafael. Resultado: o disco acabou cheio de timbres acústicos. O Ave Sangria, involuntariamente, virou uma espécie de Quinteto Violado udigrudi. E adulterado não foi apenas o som. A gravadora não topou pagar pela arte da capa e colocou em seu lugar um arremedo do desenho original, assinado por Laílson.

O disco, mesmo pouco divulgado, conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns Estados do Nordeste. Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. "Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não... Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim..." Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop. Lá fora com o gliter rock de David Bowie, Gary Glitter e Roxy Music com Alice Cooper, a aqui com o rebolado dos Secos & Molhados, Seu Waldir foi considerado pelos moralistas pernambucanos como uma apologia ao homossexualismo, quando não passava de uma brincadeira do irreverente do Ave Sangria.

Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. Marco Polo esclarece a história do personagem "Eu fiz Seu Waldir, no Rio, antes de entrar na banda. Ela foi encomendada por Marília Pera para a trilha da peça A Vida Escrachada de Baby Stomponato, de Bráulio Pedroso, que acabou não aproveitando a música".

O Departamento de Censura da Polícia Federal não levou fé nesta versão. Proibiu o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional. A proibição incitada, segundo os integrantes do Ave Sangria, pelo hoje colunista social do Diário de Pernambuco, João Alberto: "Ele tocava a música no programa de TV que ele apresentava e comentava que achava um absurdo, que uma música com uma letra daquelas não poderia tocar livremente nas rádios", denuncia Rafles. Almir Oliveira diz que lembra dos comentários do jornalista na televisão: "Mas não atribuo diretamente a ele. Se não fosse ele, teria sido outra pessoa, a música era mesmo forte para a época", ameniza. A proibição, segundo comentários da época, deveu-se a um general, incentivado pela indignação da esposa, que não simpatizou com a declaração de amor a seu Waldir.

O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. O grupo perdeu o pique: "A gente era um bando de caras pobres, alguns já com filhos, a grana sempre curta. No aperto, chegamos até a gravar vinhetas para a TV Jornal (uma delas para o programa Jorge Chau)", relembra Marco Polo.

Em dezembro de 1974, o Ave Sangria parecia querer alçar vôo novamente. O grupo fez uma das suas melhores apresentações, com o show Perfumes & Baratchos. O público que foi ao Santa Isabel não sabia, mas teve o privilégio de assistir ao canto de cisne da Ave Sangria. Foi o último show e o fim da banda.




Ave Sangria - 1975

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