Os Mutantes
Os Mutantes foram a banda de rock mais original do rock brasileiro, ou quem sabe do mundo. O trio formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias apresentava um rock anárquico e experimental, que misturava desde psicodelia, Beatles, música concreta, música erudita e até o samba. Tudo isso com muita distorção de guitarra. Junto com seus colegas Tropicalistas: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Capinan e Nara Leão, eles atearam fogo no cenário musical brasileiro.
Tudo começou em 1964, quando os irmãos Baptista, Arnaldo (baixo, teclado) e Sérgio (guitarra) formaram a banda adolescente chamada Wooden Faces. Porém esta teve vida curta e logo depois eles montaram uma nova banda, o Six Sided Rockers, já com a presença de Rita Lee. O grupo ainda trocou de nome mais uma vez, para O Konjunto, até ser batizado definitivamente de Mutantes, que fora inspirada no livro de ficção científica “O império dos mutantes”, do francês Stefan Wul.
Em 1966, com o conjunto bem entrosado, os Mutantes passaram a fazer participações em programas de TV bem populares, tais com “Astros do Disco”, “Jovem Guarda”, “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”. Isso permitiu que o som deles chegasse aos ouvidos do maestro Rogério Duprat, que encantado, os chamou para contribuírem no arranjo de “Domingo no parque”, canção de Gilberto Gil para o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de São Paulo (1967). Não satisfeitos com isso, eles ainda acompanharam o próprio Gil em sua apresentação no mesmo festival.
Esse evento abriu as portas para um primeiro compacto – O RELÓGIO (1967) – e a participação no “disco-manifesto” TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSIS (1968), que deflagou o Movimento Tropicalista.
Em 1968, eles lançam o seu primeiro LP, OS MUTANTES chegam as lojas , apresentando um repertório forte, bem psicodélico, com muita microfonia e longas passagens instrumentais. Tudo isso sob a “batuta” do maestro Rogério Duprat e do irmão Cláudio César, nos efeitos de estúdio e nos instrumentos. Mas o impacto mesmo ocorreria ao acompanhar Caetano Veloso na canção “É proibido proibir”, no III Festival Internacional da Canção da TV Globo do Rio, no qual se ouvia vaias de um lado e gritos de guerra do outro.
O ano de 1969 também é rico em acontecimentos. Gravam o segundo disco MUTANTES, sensivelmente melhor, onde mostram grande evolução musical, principalmente no que concerne a arranjos e composições. Canções como “Dom Quixote”, “2001” e “Algo mais” mostram que estavam bem afiados, sendo esta última utilizada para um comercial da Shell.
Pela primeira vez viajam para o exterior, França e Europa. Na volta a “família mutante” cresce com a entrada dobaterista Ronaldo Leme (Dinho) e o baixista Arnolpho Lima (Liminha).
Os dois álbuns seguintes "A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (1970) e JARDIM ELÉTRICO (1971) manteve o nível, flertando agora com o blues, o soul e o hard rock. Eles ainda fizeram um show no Olympia de Paris, onde aproveitaram a estada na Europa para gravar um disco para o mercado internacional, todo em inglês, que só foi lançado vinte anos depois (2000).
Paralelamente aos Mutantes, Rita Lee vinha gravando discos solos, que alimentavam os rumores de sua saída da banda. Fato que se consumou após a gravação do fraco MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DO BAURETS (1972). A partir daí tudo se modificou, enquanto Rita Lee se firmava como uma estrela de primeira grandeza da Música Popular Brasileira.
Arnaldo Baptista, continua com os Mutantes por mais um disco – O A E O Z (gravado em 1973 e lançado em 1992), para depois seguir em carreira solo, onde alterna bons e maus momentos, com destaque para o álbum LOKI? (1974). Já Sérgio Dias tentou levar a frente os Mutantes, agora progressivo, sem muito sucesso.
Mais dois discos foram lançados - o TUDO FOI FEITO PELO SOL (1974) e o AO VIVO (1976).
Contudo o fim da banda era inevitável. E dessa forma chegou ao fim a incrível jornada dos Mutantes, uma das bandas mais criativas do rock.
"Discografia"
Os Mutantes - 1968
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MUTANTES (Polydor, 1968) - Produção: Manoel Barenbein.
Mutantes - 1969
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MUTANTES (Polydor, 1969) - Produção: Manoel Barenbein.
Depois da estréia em 1968, o Mutantes, agora sem o artigo Os, lança, em 1969, o primeiro álbum dentro da verdadeira estética mutantropicalista. O álbum de 69 é o mais experimental do grupo. Não há nehum limite. Tudo - literalmente - tudo é possível. Tudo é funcional em sua estranheza. Da capa - com o trio simulando Dom Quixote - Sancho Pancha e Dulcinéia noiva - a audácia das audácias: gravar um jingle, da Shell, em um disco (Algo Mais); para o universo pop, o grupo constrói seus dois maiores hits (Fuga nº 2 e Caminhante Noturno); regrava Celly Campello (Banho de Lua); incorpora recursos paranomásicos da poesia concreta, com o auxílio do "pai" César Dias Baptista, em Dom Quixote; dialoga magistralmente com a tropicália enviesada de Tom Zé, em 2001 e Qualquer Bobagem; grava iê-iê-iê (Não vá se perder por aí) e psicodelia (Dia 36, parceria como o hippie performático Johnny Dandurand) e por fim, faz, talvez a primeira, meta-canção da MPB, isto é, uma canção falando sobre a própria cantora (Rita Lee). O álbum de 69 traz - ainda de que forma implícita - a participação dos outros dois mutantes: o baterista Dinho (Ronaldo Leme) e o contrabaixista (que no disco tocou viola) Liminha.
Fonte: Arnaldo Baptista
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A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (Polydor, 1970) - Produção: Arnaldo Sacomani.
Depois de reler o Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, o Mutantes parte rumo ao inferno da Divina Comédia e reconstrói o poeta italiano Dante Alighieri em versão pop-psicodélica. Se o álbum anterior foi experimental, este de 70 é - no sentido mais amplo - revolucionário. Nunca, na história da música brasileira, um grupo/artista foi tão longe em radicalidade. A Divina Comédia dos Mutantes jogou por terra todas as divisões e segmentações musicais. pop - experiência - vanguarda - cafonice - rigor - informalidade - rock, tudo se fundiu. Roberto Carlos & Erasmo Carlos (Preciso Urgentemente Encontrar um Amigo) com Sílvio caldas & Orestes Barbosa (Chão de Estrelas - o melhor arranjo - de Rogério Duprat - já realizou na MPB) bate cabeça com Dante (Ave Lúcifer e Oh! Mulher Infiel. Ao quinteto - Arnaldo - Dinho - Liminha - Rita & Sérgio), se juntam, em participações mais do que especiais: raphael Vilardi, violão e voz; e o percussionista Naná Vasconcelos. Nos arranjos, o tom magistral de Duprat. Fonte: Arnaldo Baptista
Tecnicolor - 1970
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TECNICOLOR (Universal, gravado em1970 e lançado em 1999) - Produção: Carl Holmes.
"Tecnicolor" – a penúltima última viagem dos Mutantes
Existem coletâneas e coletâneas de sucesso. Na maioria das vezes, são sofríveis. Acompanham o bel-prazer – ou desprazer – das gravadoras. Quase sempre, com a pretensão de atualizar a obra do artista a onda do momento. Se o período é de romantismo, a coletânea deve trazer as canções mais melosas do artista. Poucos artistas têm suas obras bem administradas. Beatles; Madonna; Prince. Roberto Carlos; Marisa Monte; Paralamas do Sucesso.
Os contratos de cessão de direitos fonográficos ainda continuam na idade da pedra. Para as gravadoras, tudo – ou quase tudo. O que já é muito. Para os artistas, a possibilidade de fama, riqueza e glória. Como o risco é grande e com a incerteza não se deve brincar, geralmente, um lado (as gravadoras) ganha e o outro (os artistas) perde.
O mais absurdo dessa situação é a falta de gerência do artista sobre sua própria obra. Isso acontece no universo (da música pop) que mais lucro produz. Na literatura, no cinema, nas artes plásticas, esse desmando é raramente aceito.
Assim, a grande vingança desse "dono que nada possui" é quando ele administra sua coletânea como um lançamento, não como uma colcha de farrapos de retalho para encher mais o cofre das gravadoras.
Sem dúvida, a primeira grande obra dentro desse formato foi a gravação do álbum "Tecnicolor" dos Mutantes, em 1970. Era, ao mesmo tempo, uma brincadeira e um passo à frente, uma coletânea e um álbum de carreira. Pois dava nova roupagem para canções já lançadas pelo grupo. Novas roupagens realmente. Não uma gravaçãozinha com um adereço a mais.
O grupo, em sua proposta de "revolução permanente", no terceiro ano de sua carreira fonográfica (a estréia se deu em 1968 com o álbum "Os Mutantes"), sem medo e sem pudor, revirou e reviu as entranhas de sua história.
Segundo Carlos Calado, "Tecnicolor" é um "título virtual", provavelmente bem posterior. O álbum foi gravado em Paris, em novembro de 1970, no Des Dames Studio. Sob a produção de Carl Holmes.
O álbum, para seguirmos um conceito da época, faz uma coletânea de versões na melhor acepção do Poema/Processo. Isto é, versões a partir de obras primeiras que se transformam em novas obras. É uma espécie de "Abbey Road" (penúltimo disco dos Beatles) às avessas. Esse disco do "Fab Four" foi gravado depois do último ("Let It be") e foi lançado antes. Esse dos Mutantes foi gravado antes do "último" ("Mutantes & Seus Cometas no País dos Baurets") e só lançado duas décadas depois.
O disco é uma antologia especial. Pois reúne repertório recente, do álbum "Jardim Elétrico", do ano: "Virgínia"; "Tecnicolor"; "El justiciero" e "Saravah", com sucessos anteriores. Os "hits" tropicalistas: "Panis et circences" (em duas versões); "Bat macumba"; "She’s my Shoo Shoo" (isto é, a jorgeben-tropicalista "A minha menina") e "Baby", a canção mais regravada pelos Mutantes (três versões); os clássicos "I feel a little spaced out" ("Ando meio desligado"); "Adeus Maria Fulô" e "I’m sorry" ("Desculpe, babe"); e o tributo aos anfitriões franceses, uma regravação de "Le premier bonheur du jour", já gravada no primeiro álbum do grupo.
O efeito-Mutantes da empreitada é que o grupo, não se fazendo de rogado, traduziu quase todas as letras para o inglês. Exceto, obviamente, a concretista e intraduzível "Bat macumba", a brejeira "Adeus Maria Fulô" e a canção francesa. "She’s my Shoo Shoo" ficou mais Jorge Ben ainda. O refrão original, em português, só aparece como coda.
"Tecnicolor" foi lançado em 2000. Além da surpresa pela modernidade sonora, trouxe ilustrações e textos manuscritos assinados por Sean Ono Lennon. Isso mesmo, o filho "inteligente" de Yoko Ono e John Lennon. Que, reza a lenda, disse julgar mais revolucionário o grupo brasileiro do que o olímpico grupo do pai. A colaboração estrangeira foi vista como algum incomodo. Pois, como sempre, a crítica especializada brasileira achou que Sean não era a pessoa mais indicada para conceber a capa. Bobagem, "fosse um dia de sol", como diria Oswald de Andrade, o preconceito tupiniquim entenderia que esse gesto foi mais uma confirmação de que nosso "Astronauta Libertado", a cada dia que passa, por mérito, é mais entronizado no Panteão do pop-rock mundial. E que se aprenda de uma vez, parafraseando, Tom Jobim, Os Mutantes, assim como o Brasil, não é uma coisa para amadores.Fonte: Arnaldo Baptista
Jardim Elétrico - 1970
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JARDIM ELÉTRICO (Polydor, 1971) - Produção: Arnaldo Baptista
Depois de três álbuns - um tropicalista, um experimental e um revolucionário - , o Mutantes lança o seu disco mais estranho. O jardim Elétrico é, sonoramente, bem proxímo da fotografia da contracapa. O quinteto zoando em um estúdio, entre parafernálias elétricas, instrumentos acústicos e alguns estimulantes. Basta notar que pela primeira e única vez, sempre que Rita lee e Sérgio Dias participam como compositores de uma música, é esta a sequência dos nomes, o que, à la Lucy in the Sky with Diamonds, dá para ler L (Lee) S (Sérgio) D (Dias). Disco de zoeira. Traz outro hit do grupo Top Top, um hard rock infernal Jardim Elétrico; uma doce versão (para o inglês) de Baby e uma paródia - homenagem a Tim Maia, Bemvinda. Completando o álbum: Tecnicolor, El Justiceiro; It's Very Nice pra Xuxu; Virgínia; Lady, Lady; Batmacumba e Saravá. Fonte: Arnaldo Baptista
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Mutantes e seus cometas no país dos Baurets - 1972
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MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DO BAURETS (Polydor, 1972) - Produção: Arnaldo Baptista
1972 é o primeiro ano (chave) do resto da vida do Mutantes. Com o Baurets, Rita Lee dá adeus ao grupo. Mas antes, se une Arnaldo - Dinho - Liminha & Sérgio no álbum mais rock'n'roll. De Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha meu rock'n'roll até Rua Augusta, o disco é uma pauleira (ou lenha, como gosta de nomear Arnaldo Baptista) do começo ao fim. E dá-lhe rock and roll em Dune Buggy, Beijo Exagerado e A Hora e a vez do Cabelo Nascer (esta magistralmente regravada pelo Sepultura. Em contraponto, as suavidades ácidas de Vida de Cachorro e o hit dos hits do grupo Balada do Louco. No setor lisergia, a ópera-surrealista-progressiva de Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, que inclui uma releitura de Tempo no Tempo / I Once There was a Time i Thought, do primeiro disco; e a vinheta dadísta Todo Mundo Pastou I e II. Ainda sobre o Baurets, resta dizer que o título do álbum e a canção homônima relêem mais um pilar da literatura mundial, o inglês Lewis carroll, e seu Alice no País das Maravilhas. É, obviamnte, o senhor Bill Halley e seu topete chuca e seus comets.Fonte: Arnaldo Baptista
A e o Z - 1973
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O A E O Z (Philips, 1992; gravado em 1973) - Produção: Mutantes
Com a saída de Rita Lee, o quarteto - Arnaldo - Dinho - liminha e Sérgio - ainda grava, em 1973, um novo disco, que fica inédito até 1992. O A e o Z é a exacerbação da ópera-surrealista-progressiva Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, do disco anterior. As seis faixas do álbum, embora independentes uma das outras, compões uma longa trilha sonora para um filme à la Zabriskie point, de Antonioni. Viagem. Trip. Good Trip. Da autobiográfica (de Arnaldo) Rolling Stones a Uma Pessoa Só (depois regravada por Arnaldo em seu 1º álbum solo Lóki?, de 1973), o álbum - sintomaticamente chamdo de O A e o Z - é o clique final na maravilhosa história do grupo Mutantes. Algum tempo depois, Arnaldo deixa o grupo e Dinho - Liminha e Sérgio seguem com o projeto (ou novo projeto) Mutantes, mas aí ja é outra história, outra mutação, outro coração, outra trip.Fonte: Arnaldo Baptista
Tudo foi feito pelo Sol - 1974
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Ao Vivo - 1976
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Cavaleiros Negros - 1976
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Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida - 1972
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HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE SUA VIDA (Polydor - 1972) - Direção de Produção: Arnaldo Baptista.
Dois anos após “Build up”, Rita Lee lança seu segundo álbum solo. A situação já é bem diferente. Se antes, Rita ainda era uma efetiva mutante; agora, a opção do grupo pelo rock progressivo (leia-se: influência do grupo Yes), praticamente jogava a artista para fora do Planeta dos Bauretz. Seu segundo disco é uma despedida e, ao mesmo tempo, o álbum mais Mutantes de todos os trabalhos do grupo. Nenhum dos seis álbuns da primeira fase do grupo – 1968-1972 – foi composto exclusivamente pelos integrantes, todos tiveram colaborações externas. O “Hoje é...”, não. Todas as faixas foram compostas pelo núcleo Arnaldo-Rita & Sérgio + Liminha: “Vamos tratar da saúde”; “Beija-me, amor”; “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”; “Teimosa”; “Frique comigo”; “Amor branco e preto”; “Tiroleite”; “Tapupukitipa”; “De novo aqui, meu bom José?” (resposta irônica a lírica “José (Joseph)”, do “Build up”); “Superfície do planeta”. A censura retalhou algumas letras que, de ácidas, se transformaram em líricas. Em “Beija-me, amor”, ouvimos: “Para que eu sinta o seu gosto / Mesclado com o gosto de amor / “Mastigado entre os dentes meus...”. Mas, na verdade, o texto original dizia: “Para que eu sinta a saliva / E o gosto de cuspe / Escorrendo entre os dentes meus...”, (cf.: Carlos Calado: “A Divina Comédia dos Mutantes”, pág.285).
O único furo (novidade) no bloqueio-Mutantes é a (estréia) participação da cantora, compositora e instrumentista Lucia Turnbull, nos vocais. Futura parceira de Rita no projeto pós-Mutantes Cilibrinas do Éden, em 1973. Dupla que serviria de base, no ano seguinte, para o grupo Tutti Frutti, com a entrada do guitarrista Luiz Sérgio e do contrabaixista Lee Marcucci. Álbum de estréia: “Atrás do porto tem uma cidade”.
Embora contemporâneo do LP “Mutantes e seus cometas no País dos Bauretz”, “Hoje é...” é um volta e/ou um símile do primeiro disco do grupo – “Os Mutantes –, de 1968. Uma audição (e uma visão) atenta de ambos mostra a estranha e estrondosa semelhança. A começar pelas capas: o álbum de 1968 traz, na contracapa, um pequeno desenho do grupo feito por Rita; no álbum solo, a capa traz um auto-retrato de Rita, a simplicidade gráfica esconde para revelar um dos elementos básicos da estética do grupo: o humor. O que, infelizmente, a opção progressiva da época encobriu ou descartou.
“Hoje é...” se traduz em uma catarse final solo/coletiva rumo a esse elemento. Se de um lado, no “Bauretz”, o humor – muito presente – está submerso; no álbum solo, ele está explícito, sobre uma textura sonora que, às vezes, soa também progressiva.
O disco tem dois capítulos distintos:
(1) biográfico, na trilha de “Vamos tratar da saúde” e “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”.
(2) Humorístico, em “Amor em branco e preto” (um hino não oficial para o Corinthians), “Tapupukitipa” e “Tiroleite”. Talvez a única tentativa vitoriosa de se fazer bom-humor com os valores da geração hippie. Essa canção, embora não tenha se transformado em sucesso rádio-televisivo, é um dos grandes “hits” das rodinhas de violão. Em algumas, divide o pódio com “Andança”, “No woman, no cry (Não chores mais)”, “Maluco beleza”, “Sobradinho” e coisas e tais.
Se “Hoje é...” é uma volta ao início do grupo, é, também, um disco-projeto do que seria a carreira-solo de Rita. Isto é, um amálgama da fórmula antropofágica de Oswald de Andrade: do AMOR / HUMOR.
Depois de 1972, nem Rita nem os Mutantes seriam os mesmos. Cada um seguiu seu caminho. Todos, porém, dentro de alguma trilha que já estava demarcada nas obras primeiras do grupo.
A partir dessa compreensão, podemos entender que, na verdade, a primeira fase do grupo não possui apenas cinco álbuns, mas oito – os cinco do grupo mais o tardio “Technicolor”, gravado em 1970 e lançado em 1999, os dois solos de Rita.
Fechou a discografia? Para mim, não. Na verdade, essa fase tem nove discos. Ainda incluo o primeiro álbum solo de Arnaldo – “Lóki?”, de 1974.
Como? É só reler este texto. Tudo que foi falado para os dois álbuns solos de Rita serve, com maior ou menor grau, para o “Lóki?”.
Isso, se não computarmos: o disco-manifesto “Tropicália – ou panis et circensis”; o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”, de 1968; e o compacto duplo de Caetano Veloso com as faixas: “A voz do morto”; “Baby”; “Saudosismo” e Marcianita”, gravado ao vivo, todos de 1968.
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Obs: Direção Musical de Arnaldo Baptista.
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Mutantes Ao Vivo em Londrina - 1975
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Mutantes Ao Vivo em São Paulo - 1978(Último Show dos Mutantes)
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